terça-feira, 24 de agosto de 2010

Encrenca sem pedigree!




Seu Julinho presenteou Carlinho com um belo exemplar de vira-lata. O sobrinho avoado não inspirava confiança de que cuidaria com atenção do cãozinho, mas o danado era tão jeitoso, verme fugado, possuía ares de labrador.
No meio da criançada curtindo o final de férias o peludo virou desculpa para sair em disparada, sumir pelas ruas próximas brincando de polícia e ladrão. O tio zeloso ficou pela praça dando em cima de uma jovem mãe desquitada de um dos meninos que estava na brincadeira. Conversa vai, conversa vem surge do nada o cachorro sozinho, evidentemente abandonado por Carlinho no meio da diversão.
-criança não é mole, já deixou o bichinho de lado!
Lamentou seu Julinho carinhosamente pegando o filhote no colo como se faz com um poodle de madame.
Alguns minutos de conversa depois surgiram no horizonte a molecada na maior algazarra, junto a carlinho o bicho de estimação que ganhara de presente. Constrangido diante da paquera, seu Julinho não sabia o que fazer com vira-lata confundido, que repleto de pulgas rosnava inquieto nos seus braços.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Que bela amizade!!!


Edil Pacheco Coroa!?!?
Lembro das gargalhadas na sala de aula quando o professor pronunciava esse nome na chamada. O dono não aprovava, também não podia brigar com todo mundo apesar da fama de mau. O colégio noturno reunia os piores elementos, desde o cara que cagava na lixeira da classe até o terrorista que explodia bebedouros. Uma mistura de hospício e puteiro, ultima parada antes do abandono escolar total. A figura de nome engraçado aprontava com Deus e o mundo, se fingia de manco para ter gratuidade no ônibus, roubou o caixa da cantina e foi aprovado sem provas finais quando soube que o diretor afeminado tinha um fraco por alunos carinhosos. Criei certa simpatia pelo doidão que me chamava de maluco, apesar de todo cuidado, naquele ninho de rato um descuido e ia embora sua carteira.
Terminei o supletivo e perdi a peça rara de vista, com planos de fazer direito penetrei junto com a turma de um amigo que cursava numa visita a delegacia, sendo mais claro, a uma carceragem.
Fomos atenciosamente alertados a não dar assunto aos presos e formando grupos de dez, os estudantes foram adentrando o corredor fúnebre onde ficavam as celas. O povo saia chocado com o pedaço de inferno. Na minha vez cheguei a hesitar, mas tomei fôlego e fui. Era um depósito de gente, mal iluminado e fétido onde feras mal-encaradas faziam as grades parecer volúveis. Já me sentia aliviado por estar perto da saída quando ouvi aquela voz familiar.
-tá fazendo o que aí maluco???
Era simplesmente Edil Pacheco Coroa, dividindo um cubículo de oito por oito com umas vinte cabeças. Fingi que não era comigo e sai de fininho. Não imagino que raio de confusão aprontou para estar ali, mas sabia que seu jeitinho brasileiro de resolver as coisas não poderia acabar bem. Fora da gaiola humana, constrangido expliquei para os universitários minha velha amizade e desisti de direito.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

The Show Must Go On


Quando o barulho abraça a madrugada surgem os verdadeiros donos da noite. Músicos que vão do rum barato ao doze anos matando a sede no sereno. Distantes do glamour das gravadoras, nem por isso estrelas menores dessa enorme constelação, pois se valem da mesma força avassaladora de sedução. Arte que invade tanto o boteco remoto onde se apresenta para dois bêbados como na boate lotada onde são consagrados por alguns instantes. Bolso vazio, corações inflados, arrepiados com a reação do público que canta junto e viaja na melodia. Brigam pela classe contra a casa de show que cega pelo capitalismo remunera indevidamente seu talento, porem reconhece nela uma vitrine necessária na exposição. Intrépidos trocam sem barganha sua saúde pela alegria daqueles que precisam de um pouco de fantasia. Despertam paixões, colecionam amores, na eterna busca do melhor, do ao vivo, tão perto do povo que sentem o hálito da euforia.
Quando a noite acaba, os ciganos involuntários do ofício desmontam o palco, toneladas de caixas e fios, viola no saco. Hora de encarar a rodoviária deserta, os óculos escuros escondem olheiras profundas e em alguma pousada da vida adormecem ocultos, recompõem energias para despertar ao primeiro sinal de crepúsculo e começar tudo de novo, afinal o show tem de continuar.


Em homenagem a algumas estrelas desta constelação como Leo Barreto, Marcão Nunes e André Amon