segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pedra na cabeça.


Eu sempre fui desses de amigo imaginário, tenho um que já existe maior tempão. Na verdade é mais velho que eu, acho que deve ter ficado de bobeira me esperando nascer para atazanar. Sendo assim, não é difícil prever que muitas vezes ele se torna um inimigo, figura pernóstica, na espreita para me sacanear, pois digo e afirmo toda vez que errei foi ele! Esse descontente que brinca com o meu juízo.

Esse sujeito safado, que veste minha roupa e se esconde bem na hora que a merda estoura. Assim vou sendo estranho, com essa coisa besta que só eu vejo, só eu entendo, tantas vezes perseguido e hoje em dia levo com afeto, um carinho de quem se rende. Não sou tão imbecil para chamá-lo de companheiro, quem sabe um pouco, incapaz de criar rótulos para esse espírito que nada tem de santo, pois nessa vida já tentei mandar, lutar, no entanto apenas obedeço, vendo o impossível antes da esquina do sucesso. E vou sofrendo, montado nessa mula desembestada, atravessando sinal fechado, falando mentira, queimando pedra e dando topada no destino. Alimento-me das calúnias para pedir, esmolar, roubar quem passa, debaixo da marquise, escravo da fissura que me bagunça, me marginaliza, me leva para o gueto. No espelho quebrado na sarjeta não reconheço essa figura nervosa, que vive babando seu destino e está sempre preparado para gozar o momento curto que em um piscar de olhos troca seu paraíso pelo inferno.