quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Adeus ano velho


Ultimas horas dos anos sessenta, no final de ano o ponto alto já era Copacabana, sua efervescência um universo rico de nacionalidades e calor carioca, o ideal para se começar um novo ano na concepção de Jorge e seus amigos. O projeto era complicado, um subúrbio enorme de ônibus lotado para atravessar, uma sede de juventude que conhecia os prazeres do álcool e possuía pouco dinheiro na carteira. Nada impossível de resolver quando se tem vontade e eloquência Partiram no fim da tarde fantasiando as garotas que poderiam conquistar, o banho de mar gelado, a multidão calorosa contando os minutos que os levariam para década de setenta. Chegando no paraíso constataram que o parco recurso não daria nem para cidra de maça, tinham de achar um meio de passar bem suas entradas e delegaram para Jorge a solução, pois ele exercia uma espécie de liderança. Sem se dar por vencido com sua desenvoltura habitual fez cara de rico e escolheu um charmoso restaurante na avenida Atlântida para começar a noite. Entre turistas e garotos da zona sul seu charme conseguiu uma das últimas mesas sem reserva. Se por um lado agradou a recepcionista com seu ar espontâneo por outro ligou o sinal de alerta do garçom quando adentrou seguido pelo bando barulhento.
Mandaram vir camarão, whisky doze anos, baseando-se em um mecenas da mesa ao lado pediam tudo do bom e do melhor, não queriam fazer feio com a mulherada desinibida que rondavam os mais afortunados. Era um dia para riqueza, sem um vintém no bolso que pagasse uma dose de bebida do local, mas isso era coisa para depois.
O Depois infelizmente chegou após horas de muita fartura e era o momento de ir para beira da praia participar da contagem regressiva da virada. Flores eram jogadas para iemanjá, mas nosso herói ainda estava em dúvida de qual santo recorrer para se livrar da conta. Decidiu em comunhão com o grupo que a melhor saída era diminuir a população da mesa, o grande problema era que quanto mais sumia gente mais desconfiança gerava no garçom perdigueiro que essa altura tinha se posicionado estrategicamente de maneira a impedir que o ultimo cliente (que era o líder Jorge) também saísse abandonando a despesa. Tava difícil foi ao banheiro, o local fechado não tinha possibilidade de fuga, mas serviu para deixar o garçom atordoado com a ausência. Imaginou que o plano poderia ser uma coisa por aí, melhor que tentar se ausente seria parecer ausente, então discretamente deixou o maço de cigarros cair, abaixou para apanhar deixando o cão de guarda desesperado com sua falta. O doido saiu a toda pelo calçadão em busca dos caloteiros, e Jorge ficou livre para sair debaixo da mesa e ir embora com todo o estilo assistir na praia a bela queima de fogos junto aos amigos satisfeitos do banquete e encantamentos que só a princesinha do mar pode proporcionar no reveillon.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Com refresco é mais barato


Hoje comi um quibe, uma droga de quibe! Fui vítima da febre que invadiu o ramo de lanches rápidos, as pastelarias chinesas. Nada contra a gordurosa culinária, peculiar em fast-food, e sim a invasão das lanchonetes baratas (e com baratas) pela cidade.
Os vira-latas estão em extinção e a quem diga que apesar da coincidência o pastel de carne tem seu charme. Sou um admirador de comer besteira na rua, caio em tentação vez por outra, mas esses lanches são sempre parecidos, o mesmo gosto, os mesmos rostos e pior, estão tomando o lugar de todo mundo. Na busca de um petisco barato para alimentar o meu pneu de cada dia acabo tropeçando com um china. Quero o direito de acordar minha azia com algo mais gostoso, estão aposentando a senhorinha que sob seu avental imundo confeccionava uma saborosa coxinha na cozinha do bar. Deixo o meu protesto, o quibe devia continuar sendo talento de árabe, pizza do italiano e o churrasco grego (que de grego só tem o mal estar que causa depois), do nordestino. Acho que nossos amigos orientais deviam voltar para o rolinho primavera.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Pit bull é coisa de mocinha












Na áfrica o conceito de animal de estimação é bastante variado.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Casa de respeito


Deixando de lado a hipocrisia, durante muito tempo, a iniciação sexual do jovem era feita por uma prostituta. Uma intenção centenária, seguindo gerações, às vezes patrocinadas pelo pai para afirmar a macheza do moleque. Não tive a felicidade de um incentivo de parente, juntei economias, reuni uma turma, e confesso sem vergonha que também já passei por esse batismo de masculinidade.
Hoje o sexo é banal, fácil de conseguir sem necessidade de apelar. Ainda assim as casas de massagem aumentam pela cidade. No meu bairro existia uma. Famosa, apesar de se localizar em uma alameda movimentada e pecar pela falta de discrição. Era uma aventura entrar no centro de lazer, tinha que tocar campainha, correndo o risco do fragrante de algum familiar passando na via. Depois valia a pena, contato intimo, acontecimentos impagáveis protagonizados por uma corja de meninos assustados. O bordel fechou as portas, o funcionamento foi vetado pela justiça, por razoes que desconheço, pois apesar de ser considerado uma atividade ilícita durou cerca de três décadas. Menos de seis meses depois iniciou uma obra no local, gerando uma óbvia curiosidade. Para espanto geral deu lugar a um salão de festas, direcionada ao público infantil. A casa de massagem virou casa de palhaço.
Será que alguma mãe bem informada vai comemorar o primeiro aninho da criança no puteiro?
E quanto o ponto de referencia da festa, vai estar escrito no convitinho colorido antiga zona?
É acho que essa casa de festa não vai sobreviver, ironicamente pelas festas do passado.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Boas festas!










































































































Aniversário, casamento, festas de fim de ano, seja lá o que for tive que furtar do site chinelada essas excelentes idéias de bolo para sua festa, aproveite e contrate o confeiteiro.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Mamãe querida


Mãe é sagrada! Coloca você no mundo, lhe ama incondicionalmente. Para muitos filhos mãe não transa, não namora ninguém que não seja seu pai. A concepção de felicidade de um filho egoísta pode chegar ao absurdo de uma mãe que mesmo desquitada permaneça solitária pro resto da vida na função de mima-lo. Pedro invadiu esse universo delicado de maneira sombria.
Márcio festejava vinte e seis anos, reuniu os amigos no domingo ensolarado. Pedro chegou na hora do almoço, o play estava incendiado, com a sua timidez ignorou o churrasco caindo dentro da bebida, formula encontrada para curar o deslocamento. Meia hora e um oceano de caipirinha depois já estava louco. Sorriso bobo no rosto, dizendo que amava todo mundo.
Mesmo aloprado reparou o assédio de uma linda mulher. Mais mulher do que linda, na verdade mais senhora. Na lógica de um ébrio um detalhe sem importância. O flerte se iniciou, patético, pois a velha também exagerava na cachaça. Eram reparados por toda festa. Muita gente chocada, incluindo Márcio, filho único da desinibida que considerava Pedro seu amigo. Num passe de mágica sumiram os dois, deixando pra traz muito alimento para fofoca.
Pedro virou lenda, maluco, padrasto na língua ferina do povo, um presente indigesto de aniversário para o ex-amigo. Se existia a máxima de mulher de amigo ser homem, imagina a mãe. Tentou negar, mas a fumaça tinha virado fogo, o que se sabe é que o romance não teve futuro, mas carcaça do sóbrio é a mesma do bêbado e por isso paga os seu pecados.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Proibido estacionar




Uma quinta-feira comum, onde o comum pra gente era fazer noitada já na quinta. A onda era um bar da moda em Piratininga, vivia lotado, ninguém nem aí pra trabalho no dia seguinte. Muita bebida, pouco juízo. O tempo chuvoso era parte da aventura semanal. De madrugada Tony resolveu finalizar sua noitada, ia viajar no dia seguinte para sua casa de praia onde sua família já se encontrava. Voltou para casa no piloto automático, quase um sonâmbulo no volante do parati. As ruas alagadas estavam vazias e o caminho era conhecido, pena que ainda não tinha sido apresentado a uma obra da cedae que se iniciara a um quarteirão da sua casa. Chamou no freio, cantou pneu, tarde demais, não conseguiu evitar que o carro caísse no imenso buraco. Não sofreu nenhum arranhão, mas ficou inviável uma providência no estado etílico que se encontrava. Optou por deixar o veículo estacionado na cratera. Exausto desmaiou na sua cama quente.
O telefone implacável o despertou quase meio-dia. Atordoado atendeu.
-seu Tony, vamos lá pegar o carro? Era Antônio, gerente do posto de gasolina da família.
-que carro? Espantou-se, a ficha da merda caiu.
-to descendo! Arrumou-se rápido, e foi tentar resolver o pepino, só não sabia o circo que já estava armado. Seu carro foi reconhecido por um adesivo no vidro com o nome de um político, entraram em contato com o político que entrou em contato com o gerente. Chegando no local o susto foi maior, uma equipe de reportagem cobria o escândalo, Tony foi aconselhado a não aparecer. O político e o gerente ficaram resolvendo o pepino e Tony se mandou para sua viajem. Lá chegando comunicou o trajeto de ônibus dizendo que deu uma batidinha, o pai compreensivo disse que isso acontece, e por um momento achou que o problema ficara por ali. Fez noitada, mais cachaça, no café encontrou a mãe com cara de poucos amigos, nem era com ele, pensou, foi para sala onde o pai lia jornal.
-essa é a batidinha? Jornal aberto o pai mostrou o à foto de primeira pagina, o automóvel adormecido no canteiro. A manchete implacável anunciava. Bêbado abandona carro no buraco da cedae.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Shrek existe







Sei que tem muita gente feia exigindo a fama de ter inspirado o Sherk, mas o muso já existe, esse é de carne e osso. Bonitinho, né?

Muito macho


Arnaldo era o machão da praia, seu quiosque não vendia fiado e nunca levava calote. Monstruoso era famoso pelas brigas que sempre vencia, causando medo na vizinhança, fama que se estendia fazendo dele um xerife da região.
Vitinho, um garoto raquítico que trabalhava para ele, tinha juízo duvidoso e vivia apanhando do patrão. Tudo de ruim que acontecia na redondeza acabava sendo associado a ele e acabava em surra, desconto no salário. Em silêncio odiava Arnaldo sentia-se escravizado pela truculência do patrão. Um domingo de praia lotada, vitinho estava alegre pelas gorjetas que conseguiu esconder, tinha projeto para cair na gandaia. Planos interrompidos pelo chefe que o obrigou a guardar sozinho todas as mesas e cadeiras. O trabalho duro rendeu algumas horas extras não remuneradas comendo grande parte do seu tempo livre. Atordoado esqueceu de desentocar seu dinheirinho escondido no banheiro. Revoltado teve que retornar quando já tinha subido todo o morro na direção do barraco. A noite parecia perdida, no quiosque, o silêncio que tomava conta do ambiente foi cortado por sussurros de prazer que vinham da parte de traz do bar. Aproximou-se tomando cuidado para não ser visto quando a cena chocante o fez derrubar imensa quantidade de latinhas que estavam sob a mesa.
-seu desgraçado, o que está fazendo aqui!Gritou Arnaldo em posição duvidosa coberto por Alex, um negão de dois metros que vendia óculos de sol. Desnorteado vitinho fugiu correndo, deixando de lado seu dinheirinho.
-calma valente! Conteve Alex o nervoso Arnaldo que não conseguiu sair de baixo e ir atrás do empregado para preservar sua fama de mal.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Teimoso em duas rodas


Carnaval é a alegria de muitos, pode também ser a aventura de outros. Dinho tinha planos de passar o feriado na casa de um amigo em arraial, mas excluído teve que optar por praia seca. No estilo vital e sua moto (paralamas do sucesso), colocou sua motoca na estrada.
Não tinha capacete, conseguiu um emprestado com o vizinho sem a viseira de acrílico, resolveu negligenciar a peça. Percebeu a importância do acessório quando passou parte da viajem atrás de um caminhão levando fumaça na cara. Chegando no destino foi motivo de riso da galera por causa da mascara preta causada pela queima do óleo na parte do rosto desprotegida. Mas tudo era festa, cerveja, churrasco, caiu na gandaia. No fundo não conseguia se conformar de ficar de fora de arraial. Insatisfeito alimentou o plano de ir por conta própria para o balneário. Os amigos tentaram mudar a ideia estúpida, mas teimoso foi irredutível. No começo da noite de sábado partiu, apesar de ter tomado umas, achou que devagar não encontraria problemas. A estrada que ligava as duas cidades tinha pouco movimento, o ventinho no rosto proporcionado pela ausência da viseira fazia Dinho deslizar nas nuvens, e se permitiu um breve cochilo.
Acordou no domingo descoberto por crianças que brincavam perto do matagal onde foi parar. Foi socorrido por curiosos. Tirando alguns arranhões e carrapicho saiu ileso. Deixou sua Honda empenada no posto policial e voltou para praia seca terminar seu resto de folia na companhia dos velhos parceiros que se deliciaram com a história.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Culto na roça


Betinho foi passar férias escolares na fazendo da avó, sem televisão, luz elétrica... O silêncio da noite era interrompido apenas pelos cantos dos grilos e pios de coruja. Sua avó era evangélica e tinha como maior prazer, o culto noturno que era realizado em uma igrejinha a dois quilômetros da casa.
Para espantar o tédio, resolveu encabeçar o grupo e se mandou para igreja com avó, tia e dois primos.
Escuridão no caminho, contos de assombração, tudo até então parecia prazeroso para o garoto urbano. No local da cerimônia, pouco mais que um casebre, encontraram grande parte da população agrícola do local. Rostos solenes, gemendo rezas desconhecidas. Betinho, nem um pouco santo, começou a achar cômico, graça de verdade, tinha o riso frouxo.
Apesar de crentes, seus primos alimentavam seu humor, dando risadinhas ocultas. Betinho em desvantagem, por sua dificuldade em conter o riso, gargalhava percebido pela avó que bufava, incomodada com a falta de respeito do menino. Percebendo que passara dos limites, Betinho resolveu se conter. Foi pior! O que era para vir por cima veio por baixo. Prendeu o riso, mas não conseguiu conter a explosão. Uma seqüência de gazes estremeceu toda a igrejinha. O culto parou. Um barulho, odor horrível, os peidos estavam realmente envenenados pelo forte tempero do interior.
Os primos explodiram na gargalhada e até a tia não resistiu; a avó permaneceu sisuda. Foi expulso da igreja, abandonou antecipadamente suas férias na roça.
Até hoje continua com seu riso frouxo, mas não prende, pois a natureza sempre arruma um meio de liberar seus fluídos.