quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Você escolheu errado seu super herói.
















Muitas crianças sonham em ser super heróis. Nada mais simpático já que a maioria deles faz o bem, possuem super poderes e salvam o mundo sempre tão precisado de ajuda. Eu mesmo já me imaginei subindo pelas paredes, meu amigo Rafael só tirava fotos imitando o hulk, apesar da reportagem recente do menino que pulou pela janela do prédio achando que podia voar. Na maioria das vezes esse devaneio infantil passa sem maiores desastres, mas também rola aqueles que não abandonam esse desejo nem quando adulto, ou será que eles são realmente nossos salvadores?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Grande família


Presenciei quando garoto o surgimento da família mais completa que poderia existir, a família monstro. O apelido não tinha a ver com a família Adams da televisão, e sim com a diversidade dos integrantes. O patriarca, cachaceiro inveterado vivia beijando calçada. A esposa uma crente fervorosa a serviço do senhor. A única filha era uma Raimunda que apesar de feia de cara fazia a alegria da rapaziada que recebia em fila quando estava sozinha. O caçula coroinha da igreja vivia dos seus biscates ajudando as carolas. Tinha ainda um cdf afundado nos livros, um ladrão de varal responsável pelos pequenos furtos da região, e o mais curioso de todos, o irmão mais velho. O primogênito sustentou por um tempo o mistério de sair a noite e aparecer no dia seguinte. Valério não tinha menor pinta de vampiro com seu jeito afeminado, logo descobriram que fazia ponto no centro da cidade travestido. Até gente esquisita tem limite, rolou pancadaria. Uma casa com tantos conflitos rolava porrada todo dia, mas essa briga em especial resultou em pé na bunda do filho gay.
Os anos passaram e a casa continuava sendo atração de escândalos. O coroinha largou a igreja depois que descobriu sabor no vinho do padre, seguindo assim os passos do pai. O ladrão participou de um roubo grande e acabou em cana. A desinibida pegou barriga e terminou em filho. O sonho da mãe de ter um filho doutor se perdeu quando o estudioso Maurício trocou a faculdade de medicina pelo balcão da padaria para ajudar nas despesas.
De bíblia em punho e carapinha branca a matriarca não tinha forças para pedir saúde para o velho agonizando sua cirrose no hospital publico.
O milagre veio de táxi, certa tarde uma vistosa morena de cabelos cacheados entrou porta adentro. Maquiada de forma tão impecável que dona Eulália não foi capaz de reconhecer Valério expulso há quinze anos atrás. Ele não estava ali para expor suas mágoas, vinha de longe, tinha encantado a Europa com seu jeito diferente de ser mulher, colecionou amantes e euros. O sangue falou alto e veio ajudar seu povo. O pinguço teve um enterro digno sobre lagrimas. O encarcerado conseguiu liberdade pelas mãos de um bom advogado. A ovelha negra surgiu em forma de esperança, um arrimo perfeito no meio de tanta diferença. Se seu dinheiro não foi suficiente para trazer saúde, trouxe algo improvável pro seio da família monstro novamente, união.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Festa no interior


Uma das poucas certezas que tenho na vida é que tudo é roubável, basta criatividade e qualquer coisa vira um alvo. Itaocara, uma pequena cidade no interior do Rio ainda gozava de pouca violência, suas ocorrências não passavam de roubo de galinha. O perigo estava na época da quermesse, que atraia publico de fora pela quantidade de mulheres bonitas.
Marquinho resolveu prestigiar o evento, a faculdade de medicina o consumia tanto que poucas eram as oportunidades de um fim de semana livre dos plantões e livros. Sua antiga turma não permitia caretice e logo no primeiro dia cedeu aos caprichos da vodka. Nitroglicerina pura, o Caxias virou a atração da festa, fazendo o espetáculo das transformistas do palanque ter menor importância. Fim da noite se viu acompanhado e sem carona para voltar. No desespero de andar alguns quilômetros, sua amada demonstrou desânimo com o convite para dormirem juntos, quando o doutor percebeu em uma carroça amarrada em uma árvore perto do rio a oportunidade de fechar com chave de ouro. Sem dificuldade convenceu a companheira do passeio romântico. Sem ninguém por perto conseguiu botar o troço para andar com duas pancadas na mula. Prometeu noivado tendo o céu estrelado como testemunha, e varou a madrugada no balanço carente de amortecedor do novo transporte. Todo mundo acreditava que Marquinho iria longe na vida, o que ninguém imaginava é que ele faria isso indo desembestado entre Itaocara e Aperibé em uma charrete roubada. O dono do veículo dormia na beira do rio aquecido pela garrafa de itaucarina que tinha mamado horas antes, sem imaginar o que acontecia com o patrimônio. A essa altura nosso médico já estava apavorado tentando fazer o bicho parar, a mula não tinha abs, quando pegou a reta da estrada tomou fôlego e dizem os mentirosos podia ser vista a cento e vinte por hora. Nem precisava tanto para o ébrio e sua noiva não terem condição de pular da desenfreada geringonça, nervoso improvisou uma vareta no traseiro da bicha, o resultado foi catastrófico, a suada mula iniciou uma seqüência de gases para logo em seguida sua manifestação ficar sólida, a bosta parecia não ter fim, ia para todo lado, mole e fedida transformando o passeio romântico em uma viajem ao inferno, quando dois vaqueiros conseguiram conter os fugitivos tinha fezes para todo lado. Os pombinhos precisaram de um bom banho. A simpatia acolhedora da região fez o roubo ser levado na brincadeira, a rajada de merda foi suficiente para Marquinho nunca mais roubar nada. O noivado acabou no dia seguinte quando a ficha caiu e retornou para Niterói. A mula valorizou bastante no mercado por causa do sistema de alarme contra roubo mais eficaz da região.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sorria!!!






















É legal perder tempo olhando o passado estampado. Uma pesquisa revelou que mais da metade das pessoas se acha estranha quando se vê em uma foto. A câmera é um objeto temperamental, pode maltratar muito se não vai com a cara do feioso. Sempre pode rolar a desculpa que não é fotogênico e a alternativa de sair de fininho. Nos tempos sem digital o estrago era pior, não tinha aquele recurso de ver e quem sabe apagar, o sujeito gastava dinheiro para revelar e vinha o desastre. Ficava até barato quando a imagem vinha apenas com os olhos vermelhos de maconheiro. Nos dias de hoje recursos não faltam, mas tem sempre uma boa maneira de deixar sua foto estranha. Quem é que nunca tirou foto abraçado com amigos olhando para baixo onde a maquina no automático faz aquela boba roda feliz de sorrisos, ou aquela que um monte de babaca fica com o olhar perdido no céu fazendo ar de pensativo. Ta afim de sacanear? Tem aqui algumas maneiras irreverentes e sensuais de fazer pose.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Era uma vez...


Em um reino não muito longe, nasceu uma princesa chamada Lívia. Uma bela favelada de cândidos olhos esverdeados, cabelo sarara quase loiro e sorriso de marfim. Era a beleza em um universo onde a miséria deixava as pessoas feias. Um mundo onde histórias da carochinha não têm a menor graça. Como beleza abre portas, os pais amadureceram o sonho de projetar a princesa longe da fome, assim batalhavam dia e noite cada centavo para oferecer oportunidade para sua fadinha.
Aos quinze anos e um belo corpo de mulata contrastando com as feições finas de uma sueca, Lívia representava uma beleza fora dos padrões. Sua festa de debutante foi patrocinada por uma vaquinha que correu todo o morro, nenhum súdito quis ficar de fora do espetáculo. O vestido branco apertado pouco foi notado pelos olhares embevecidos na hora da valsa que carinhosamente dançou com cada adolescente do morro.
Meses depois o escândalo da gravidez. O conto de fadas deu lugar a sina da maioria das meninas de comunidade. Quem fez o mal não veio a galope em cavalo branco e sim de ônibus, um cobrador de ônibus astuto que cantou pneu depois que toda favela exigiu casamento. Lívia concluiu que mentira pode trazer fertilidade, mas nunca felicidade. Seu primeiro parto levou embora um pouco da beleza, os sonhos foram ficando menores e o final feliz já poderia ser um homem trabalhador disposto a sustentar família grande. Virou mãe solteira de uma escadinha, um de cada pai, tentativas frustradas de segurar homem. Seu palácio de um cômodo virou lama quando o temporal derrubou a encosta. Foi obrigada a trocar o morro pelo viaduto e resolveu ganhar a vida vendendo refrigerante e lamentando a sorte no sinal. Mais pobreza, menos beleza, sofreu o pão que o diabo amassou quando finalmente o destino lhe sorriu na forma de um príncipe. Um gringo gordo de idade avançado, solitário até perceber no restinho de beleza da ambulante a ideia de uma família. Decidiu levar toda tropa para o seu reino distante, a fria Europa, onde uma sisuda corte se rendeu a mistura de cores e ginga brasileira. E assim foram felizes para sempre.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ermitão do trezentos e dois


Wilsinho era o famoso arame liso. Dez minutos perto da rapaziada era a conta para começar a ser sacaneado. A galera gastava na sua fama de virgem aos trinta anos.
Bira era o que mais zoava, tão pilantra se fingia amigo. Em memorável tentativa de abalar a monotonia do pobre, o convidou para uma noitada no novo bar do bairro. O lugar tava bombando, tinha possibilidade do casto rapaz perder seu cabresto. Apesar de satisfeito com suas atividades auto sexuais nas duas horas que levava para tomar banho, Wilsinho foi obrigado pela mãe a aceitar o convite do gaiato.
Tirou camisa nova do armário, colocou perfume de cheiro duvidoso. Chegaram cedo ao recinto, em grande número de pessoas. Juntaram mesa, pediram balde de cerveja. A casa lotou, um público feminino animado, duas moças em especial sorriam animadas para o assédio de Bira. Wilsinho não se fez de rogado e apesar do nervosismo aceitou o desafio de atacar. No seu íntimo sentia a oportunidade de mostrar para aquele bando de inúteis do prédio que não era o bobo da corte que parecia. Ajudado pelo drible que o álcool deu na sua timidez chegou desinibido na loira grande. Suas investidas foram sendo bem recebidas pela encorpada senhorita. A essa altura Bira já roubava o primeiro beijo na moreninha com cara de boneca e foi à deixa para Wilsinho mergulhar nos lábios grossos do loirão. A mesa dos amigos se dividia entre gargalhadas e espanto, não esperava parecer engraçado, afinal estava se dando bem, mostrando para os idiotas o que era ser um homem de verdade. Mas para sua infelicidade o motivo de tanta graça era que sua miopia não lhe deixou perceber que sua amada também era um homem de verdade. Um traveco famoso da região que sua reclusão no condomínio não lhe permitia conhecer. Tarde demais, a casa de show inteira assistia ao espetáculo O misericordioso Bira lhe impediu a tempo de descobrir a tromba escondida na saia. O escândalo com o tempo ganhou mais trechos chegando ao ponto de algum sacana incluir a perda da virgindade do infeliz. O que se sabe é que os sacanas nunca mais contestaram o poder de conquista do ermitão do trezentos e dois.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Eu podia tá roubando!


O coletivo não estava lotado, mas ainda sim restavam poucos lugares para viajar sentado. Em uma tarde abafada de janeiro, apesar do ar condicionado o calor que entrava toda vez que a porta abria, deixava o clima quente e naturalmente o mau humor de quem paga passagem mais cara também aumenta. Andar de ônibus, parando de ponto em ponto, gente estranha do lado, em um Rio de janeiro que a segurança é bastante precária é uma aventura no mínimo antropológica. Muitos rostos, diversas raças, misturas improváveis por motivos inimagináveis.
Apesar de carona ser proibida pelas empresas, os motoristas abrem exceções para o comércio alternativo da grande massa desempregada brasileira, os ambulantes. Tem vendedor que já ficou famoso por décadas abusando do discurso repetitivo, vendem bala, chocolate, cocadas confeccionadas em fundo de quintal, tem aqueles que apelam para distribuir de mão em mão um bilhetinho sujo contando sua deficiência. Nessa segunda monótona o motorista respeitou o cotidiano e aceitou mais um desses testadores de paciência alheia.
-boa tarde senhores passageiros, desculpe atrapalhar o sossego da viajem! Lamentou o homem alto de cinquenta anos, curiosamente de terno e gravata, sem alguma mercadoria aparente. A senhora no banco da frente bufou mostrando descontentamento, o rapaz dos bancos atrás se virou para paisagem na janela simbolizando seu desinteresse, a grande maioria dos passageiros arrumou alguma maneira de ignorar o pedinte visivelmente fora dos padrões de pobreza aceitável para esse tipo de função.
-eu poderia estar em algum paraíso pelo mundo, mas estou aqui pedindo! Continuou sem se importar com a pouca atenção.
-pedindo que por piedade que aceitem esses cheques de meio milhão retirados do premio da mega sena de final de ano que ganhei sozinho! Atenção imediata de todo o busão, freada brusca do motorista, o homem célere distribuiu sua fortuna para os perplexos novos amigos. Ta certo que se fosse por atenção ninguém ganhava um centavo, mas Oswaldo fez a promessa de distribuir parte do premio no primeiro transporte publico que entrasse antes de apostar e se descobrir milionário. No fim das contas sobrou grana para distribuir para uns cem veículos iguais se quisesse e ainda deu a oportunidade de trinta e dois novos-ricos nunca mais precisaram andar de ônibus e felizes perceber o preço que vale uma atenção.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Mister universo


O culto ao corpo virou febre. O numero de gente forte cresce extremamente. Lembro que na minha infância apenas o rambo era forte e o galã da novela das oito era magro do peito cabeludo. Hoje tem um stalone em cada esquina, os pelos do peito são massacrados pela impiedosa maquina zero. Remédios e suplementos encabeçam as receitas dos novos músculos, fazem milagre transformando o raquítico em Hercules, o gordinho perde peso e seco e o velho flácido vira uma rocha. Tem efeitos colaterais, pesa bastante no bolso, atinge em cheio a virilidade. Ta certo que rola um comprimido para o borracha fraca, mas sem grana o sarado se transforma em uma paisagem bela porem desnecessária. Um mundo de gente gostosa, anos de luta contra o próprio organismo, o pior vem com o tempo, é trágico quando a natureza traz a conta, mas isso é papo para depois, o metro sexual é um andróide programado para o dia de hoje.