quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Cafezinho


Arlindo era tarado por café, bebia para dormir, para acordar, antes e após as refeições, se sentia uma enorme máquina abastecida por esse combustível, infalível para seu humor funcionar direito. Quando seu celular tocou no meio do expediente estremeceu, era sua tia Laurinda uma mala que sempre que ligava mordia um troco.
-estou muito ocupado!
Foi curto e grosso.
-pois desocupe querido sobrinho, seu Pai acabou de falecer!
Mandou a bomba do outro lado.
O traste do Juvêncio afogava a vida na cachaça e nunca morreu de amores pelos familiares, enterrou a esposa e contribuía assiduamente para os cabelos grisalhos de Arlindo. Apesar dos pesares lhe colocou no mundo e sem mais delongas mandou-se para Arraial do Cabo. No caminho teve outra péssima constatação, era véspera de carnaval.
A estrada repleta a caminho do balneário fez a viagem que levava duas horas se transformou em oito deixando ele tão atordoado que adentrou o velório sem dar conta do caixão no centro da sala e foi parar direto na cafeteira. A família chocada o seguiu para protestar.
-seu insensível, nem foi capaz de olhar o velho!
Protestou a irmã com veemência.
Já recuperando as energias, Arlindo se virou para a roda de parentes e disparou.
-deixa terminar meu café, daqui a pouco vou ali e choro pra caralho!