quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Adeus ano velho


Ultimas horas dos anos sessenta, no final de ano o ponto alto já era Copacabana, sua efervescência um universo rico de nacionalidades e calor carioca, o ideal para se começar um novo ano na concepção de Jorge e seus amigos. O projeto era complicado, um subúrbio enorme de ônibus lotado para atravessar, uma sede de juventude que conhecia os prazeres do álcool e possuía pouco dinheiro na carteira. Nada impossível de resolver quando se tem vontade e eloquência Partiram no fim da tarde fantasiando as garotas que poderiam conquistar, o banho de mar gelado, a multidão calorosa contando os minutos que os levariam para década de setenta. Chegando no paraíso constataram que o parco recurso não daria nem para cidra de maça, tinham de achar um meio de passar bem suas entradas e delegaram para Jorge a solução, pois ele exercia uma espécie de liderança. Sem se dar por vencido com sua desenvoltura habitual fez cara de rico e escolheu um charmoso restaurante na avenida Atlântida para começar a noite. Entre turistas e garotos da zona sul seu charme conseguiu uma das últimas mesas sem reserva. Se por um lado agradou a recepcionista com seu ar espontâneo por outro ligou o sinal de alerta do garçom quando adentrou seguido pelo bando barulhento.
Mandaram vir camarão, whisky doze anos, baseando-se em um mecenas da mesa ao lado pediam tudo do bom e do melhor, não queriam fazer feio com a mulherada desinibida que rondavam os mais afortunados. Era um dia para riqueza, sem um vintém no bolso que pagasse uma dose de bebida do local, mas isso era coisa para depois.
O Depois infelizmente chegou após horas de muita fartura e era o momento de ir para beira da praia participar da contagem regressiva da virada. Flores eram jogadas para iemanjá, mas nosso herói ainda estava em dúvida de qual santo recorrer para se livrar da conta. Decidiu em comunhão com o grupo que a melhor saída era diminuir a população da mesa, o grande problema era que quanto mais sumia gente mais desconfiança gerava no garçom perdigueiro que essa altura tinha se posicionado estrategicamente de maneira a impedir que o ultimo cliente (que era o líder Jorge) também saísse abandonando a despesa. Tava difícil foi ao banheiro, o local fechado não tinha possibilidade de fuga, mas serviu para deixar o garçom atordoado com a ausência. Imaginou que o plano poderia ser uma coisa por aí, melhor que tentar se ausente seria parecer ausente, então discretamente deixou o maço de cigarros cair, abaixou para apanhar deixando o cão de guarda desesperado com sua falta. O doido saiu a toda pelo calçadão em busca dos caloteiros, e Jorge ficou livre para sair debaixo da mesa e ir embora com todo o estilo assistir na praia a bela queima de fogos junto aos amigos satisfeitos do banquete e encantamentos que só a princesinha do mar pode proporcionar no reveillon.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Com refresco é mais barato


Hoje comi um quibe, uma droga de quibe! Fui vítima da febre que invadiu o ramo de lanches rápidos, as pastelarias chinesas. Nada contra a gordurosa culinária, peculiar em fast-food, e sim a invasão das lanchonetes baratas (e com baratas) pela cidade.
Os vira-latas estão em extinção e a quem diga que apesar da coincidência o pastel de carne tem seu charme. Sou um admirador de comer besteira na rua, caio em tentação vez por outra, mas esses lanches são sempre parecidos, o mesmo gosto, os mesmos rostos e pior, estão tomando o lugar de todo mundo. Na busca de um petisco barato para alimentar o meu pneu de cada dia acabo tropeçando com um china. Quero o direito de acordar minha azia com algo mais gostoso, estão aposentando a senhorinha que sob seu avental imundo confeccionava uma saborosa coxinha na cozinha do bar. Deixo o meu protesto, o quibe devia continuar sendo talento de árabe, pizza do italiano e o churrasco grego (que de grego só tem o mal estar que causa depois), do nordestino. Acho que nossos amigos orientais deviam voltar para o rolinho primavera.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Pit bull é coisa de mocinha












Na áfrica o conceito de animal de estimação é bastante variado.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Casa de respeito


Deixando de lado a hipocrisia, durante muito tempo, a iniciação sexual do jovem era feita por uma prostituta. Uma intenção centenária, seguindo gerações, às vezes patrocinadas pelo pai para afirmar a macheza do moleque. Não tive a felicidade de um incentivo de parente, juntei economias, reuni uma turma, e confesso sem vergonha que também já passei por esse batismo de masculinidade.
Hoje o sexo é banal, fácil de conseguir sem necessidade de apelar. Ainda assim as casas de massagem aumentam pela cidade. No meu bairro existia uma. Famosa, apesar de se localizar em uma alameda movimentada e pecar pela falta de discrição. Era uma aventura entrar no centro de lazer, tinha que tocar campainha, correndo o risco do fragrante de algum familiar passando na via. Depois valia a pena, contato intimo, acontecimentos impagáveis protagonizados por uma corja de meninos assustados. O bordel fechou as portas, o funcionamento foi vetado pela justiça, por razoes que desconheço, pois apesar de ser considerado uma atividade ilícita durou cerca de três décadas. Menos de seis meses depois iniciou uma obra no local, gerando uma óbvia curiosidade. Para espanto geral deu lugar a um salão de festas, direcionada ao público infantil. A casa de massagem virou casa de palhaço.
Será que alguma mãe bem informada vai comemorar o primeiro aninho da criança no puteiro?
E quanto o ponto de referencia da festa, vai estar escrito no convitinho colorido antiga zona?
É acho que essa casa de festa não vai sobreviver, ironicamente pelas festas do passado.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Boas festas!










































































































Aniversário, casamento, festas de fim de ano, seja lá o que for tive que furtar do site chinelada essas excelentes idéias de bolo para sua festa, aproveite e contrate o confeiteiro.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Mamãe querida


Mãe é sagrada! Coloca você no mundo, lhe ama incondicionalmente. Para muitos filhos mãe não transa, não namora ninguém que não seja seu pai. A concepção de felicidade de um filho egoísta pode chegar ao absurdo de uma mãe que mesmo desquitada permaneça solitária pro resto da vida na função de mima-lo. Pedro invadiu esse universo delicado de maneira sombria.
Márcio festejava vinte e seis anos, reuniu os amigos no domingo ensolarado. Pedro chegou na hora do almoço, o play estava incendiado, com a sua timidez ignorou o churrasco caindo dentro da bebida, formula encontrada para curar o deslocamento. Meia hora e um oceano de caipirinha depois já estava louco. Sorriso bobo no rosto, dizendo que amava todo mundo.
Mesmo aloprado reparou o assédio de uma linda mulher. Mais mulher do que linda, na verdade mais senhora. Na lógica de um ébrio um detalhe sem importância. O flerte se iniciou, patético, pois a velha também exagerava na cachaça. Eram reparados por toda festa. Muita gente chocada, incluindo Márcio, filho único da desinibida que considerava Pedro seu amigo. Num passe de mágica sumiram os dois, deixando pra traz muito alimento para fofoca.
Pedro virou lenda, maluco, padrasto na língua ferina do povo, um presente indigesto de aniversário para o ex-amigo. Se existia a máxima de mulher de amigo ser homem, imagina a mãe. Tentou negar, mas a fumaça tinha virado fogo, o que se sabe é que o romance não teve futuro, mas carcaça do sóbrio é a mesma do bêbado e por isso paga os seu pecados.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Proibido estacionar




Uma quinta-feira comum, onde o comum pra gente era fazer noitada já na quinta. A onda era um bar da moda em Piratininga, vivia lotado, ninguém nem aí pra trabalho no dia seguinte. Muita bebida, pouco juízo. O tempo chuvoso era parte da aventura semanal. De madrugada Tony resolveu finalizar sua noitada, ia viajar no dia seguinte para sua casa de praia onde sua família já se encontrava. Voltou para casa no piloto automático, quase um sonâmbulo no volante do parati. As ruas alagadas estavam vazias e o caminho era conhecido, pena que ainda não tinha sido apresentado a uma obra da cedae que se iniciara a um quarteirão da sua casa. Chamou no freio, cantou pneu, tarde demais, não conseguiu evitar que o carro caísse no imenso buraco. Não sofreu nenhum arranhão, mas ficou inviável uma providência no estado etílico que se encontrava. Optou por deixar o veículo estacionado na cratera. Exausto desmaiou na sua cama quente.
O telefone implacável o despertou quase meio-dia. Atordoado atendeu.
-seu Tony, vamos lá pegar o carro? Era Antônio, gerente do posto de gasolina da família.
-que carro? Espantou-se, a ficha da merda caiu.
-to descendo! Arrumou-se rápido, e foi tentar resolver o pepino, só não sabia o circo que já estava armado. Seu carro foi reconhecido por um adesivo no vidro com o nome de um político, entraram em contato com o político que entrou em contato com o gerente. Chegando no local o susto foi maior, uma equipe de reportagem cobria o escândalo, Tony foi aconselhado a não aparecer. O político e o gerente ficaram resolvendo o pepino e Tony se mandou para sua viajem. Lá chegando comunicou o trajeto de ônibus dizendo que deu uma batidinha, o pai compreensivo disse que isso acontece, e por um momento achou que o problema ficara por ali. Fez noitada, mais cachaça, no café encontrou a mãe com cara de poucos amigos, nem era com ele, pensou, foi para sala onde o pai lia jornal.
-essa é a batidinha? Jornal aberto o pai mostrou o à foto de primeira pagina, o automóvel adormecido no canteiro. A manchete implacável anunciava. Bêbado abandona carro no buraco da cedae.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Shrek existe







Sei que tem muita gente feia exigindo a fama de ter inspirado o Sherk, mas o muso já existe, esse é de carne e osso. Bonitinho, né?

Muito macho


Arnaldo era o machão da praia, seu quiosque não vendia fiado e nunca levava calote. Monstruoso era famoso pelas brigas que sempre vencia, causando medo na vizinhança, fama que se estendia fazendo dele um xerife da região.
Vitinho, um garoto raquítico que trabalhava para ele, tinha juízo duvidoso e vivia apanhando do patrão. Tudo de ruim que acontecia na redondeza acabava sendo associado a ele e acabava em surra, desconto no salário. Em silêncio odiava Arnaldo sentia-se escravizado pela truculência do patrão. Um domingo de praia lotada, vitinho estava alegre pelas gorjetas que conseguiu esconder, tinha projeto para cair na gandaia. Planos interrompidos pelo chefe que o obrigou a guardar sozinho todas as mesas e cadeiras. O trabalho duro rendeu algumas horas extras não remuneradas comendo grande parte do seu tempo livre. Atordoado esqueceu de desentocar seu dinheirinho escondido no banheiro. Revoltado teve que retornar quando já tinha subido todo o morro na direção do barraco. A noite parecia perdida, no quiosque, o silêncio que tomava conta do ambiente foi cortado por sussurros de prazer que vinham da parte de traz do bar. Aproximou-se tomando cuidado para não ser visto quando a cena chocante o fez derrubar imensa quantidade de latinhas que estavam sob a mesa.
-seu desgraçado, o que está fazendo aqui!Gritou Arnaldo em posição duvidosa coberto por Alex, um negão de dois metros que vendia óculos de sol. Desnorteado vitinho fugiu correndo, deixando de lado seu dinheirinho.
-calma valente! Conteve Alex o nervoso Arnaldo que não conseguiu sair de baixo e ir atrás do empregado para preservar sua fama de mal.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Teimoso em duas rodas


Carnaval é a alegria de muitos, pode também ser a aventura de outros. Dinho tinha planos de passar o feriado na casa de um amigo em arraial, mas excluído teve que optar por praia seca. No estilo vital e sua moto (paralamas do sucesso), colocou sua motoca na estrada.
Não tinha capacete, conseguiu um emprestado com o vizinho sem a viseira de acrílico, resolveu negligenciar a peça. Percebeu a importância do acessório quando passou parte da viajem atrás de um caminhão levando fumaça na cara. Chegando no destino foi motivo de riso da galera por causa da mascara preta causada pela queima do óleo na parte do rosto desprotegida. Mas tudo era festa, cerveja, churrasco, caiu na gandaia. No fundo não conseguia se conformar de ficar de fora de arraial. Insatisfeito alimentou o plano de ir por conta própria para o balneário. Os amigos tentaram mudar a ideia estúpida, mas teimoso foi irredutível. No começo da noite de sábado partiu, apesar de ter tomado umas, achou que devagar não encontraria problemas. A estrada que ligava as duas cidades tinha pouco movimento, o ventinho no rosto proporcionado pela ausência da viseira fazia Dinho deslizar nas nuvens, e se permitiu um breve cochilo.
Acordou no domingo descoberto por crianças que brincavam perto do matagal onde foi parar. Foi socorrido por curiosos. Tirando alguns arranhões e carrapicho saiu ileso. Deixou sua Honda empenada no posto policial e voltou para praia seca terminar seu resto de folia na companhia dos velhos parceiros que se deliciaram com a história.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Culto na roça


Betinho foi passar férias escolares na fazendo da avó, sem televisão, luz elétrica... O silêncio da noite era interrompido apenas pelos cantos dos grilos e pios de coruja. Sua avó era evangélica e tinha como maior prazer, o culto noturno que era realizado em uma igrejinha a dois quilômetros da casa.
Para espantar o tédio, resolveu encabeçar o grupo e se mandou para igreja com avó, tia e dois primos.
Escuridão no caminho, contos de assombração, tudo até então parecia prazeroso para o garoto urbano. No local da cerimônia, pouco mais que um casebre, encontraram grande parte da população agrícola do local. Rostos solenes, gemendo rezas desconhecidas. Betinho, nem um pouco santo, começou a achar cômico, graça de verdade, tinha o riso frouxo.
Apesar de crentes, seus primos alimentavam seu humor, dando risadinhas ocultas. Betinho em desvantagem, por sua dificuldade em conter o riso, gargalhava percebido pela avó que bufava, incomodada com a falta de respeito do menino. Percebendo que passara dos limites, Betinho resolveu se conter. Foi pior! O que era para vir por cima veio por baixo. Prendeu o riso, mas não conseguiu conter a explosão. Uma seqüência de gazes estremeceu toda a igrejinha. O culto parou. Um barulho, odor horrível, os peidos estavam realmente envenenados pelo forte tempero do interior.
Os primos explodiram na gargalhada e até a tia não resistiu; a avó permaneceu sisuda. Foi expulso da igreja, abandonou antecipadamente suas férias na roça.
Até hoje continua com seu riso frouxo, mas não prende, pois a natureza sempre arruma um meio de liberar seus fluídos.


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Opalão


Fui passear em Bom Jesus de Itabapoana com meu amigo Tony. Vinte anos de idade, na cabeça bebida e mulher, sem critério para qualidade de ambas as coisas. Ficamos na casa de parentes de Tony, todo mundo tem família no interior, nem todo mundo tem intimidade com esses desconhecidos do mesmo sangue. De mala e cuia fomos bem recebidos. Apareceu um tio com whisky, as primas sorriam para nossa juventude. Consumimos o scotch na mesma noite, o tio teve uma ressaca que não quis mais saber da gente.
Em todo caso seguiram as homenagens e no dia seguinte fizeram um churrasco para nos. Cerveja, picanha em dado momento, por coerência outro tio resolveu fechar a entrada da garagem com seu enorme opala. Como nossos planos incluíam uma boate afastada da cidade, protestamos, ele alegou que era melhor curtir a noite na festinha da praça dado o teor etílico. Não convenceu, e como não era pai de ninguém para proibir deu a missão de retirar seu opalão da frente do nosso carro. Tony se prestou a retirar o monstro da vaga. Tony deu ré na jamanta, com pouca visibilidade foi auxiliado pelo tio que também não estava sóbrio, mandou o carro vir sem abrir o portão da garagem.
-vem, vem! Gritava para Tony com pouca visibilidade.
-aí, aí! Gritou para Tony quando começou a ser imprensado entre a parede e o portão.
-meu pai! Gritou sua filha apavorada, enquanto eu que não era parente de ninguém não conseguia fazer nada além de rir.
Tony conseguiu evitar o pior, o parente apenas ficou mancando alguns dias. Voltamos da viagem prometendo namoro para as primas, retorno para o tio, que aposentou o opalão antes que fosse aposentado por ele.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O frentista ninja


Mauro não curtia festa à fantasia, mas resolveu fazer dela o programa do seu sábado já que, no evento, a bebida era inclusa no preço do convite e as pessoas escondidas em trajes cômicos. Conseguiu uma roupa de frentista e entrou no espírito carnavalesco da noite. Gilda amava festa à fantasia e ver a criatividade nas alegorias. Passava semanas criando a sua própria; imaginando o sucesso que faria.
Alguns vetos e diversas doses vodka depois, Mauro pertencia à estatística do bêbado e tinha a noite como perdida quando surgiu Gilda na sua exuberante fantasia de doméstica. Unindo o calor da noite com o fetiche do menino que sonha conquistar uma diarista, começou o assédio.
A noite terminou em beijos na pista de dança. A coisa começou a esquentar e saíram de fininho em busca de lugar tranqüilo para namorar. O frentista e a doméstica vagaram pela madrugada a procura de uma alcova.
Aos primeiros raios de sol, encontraram o ninho de amor. A atendente ofereceu um quarto simples, deixando de lado os detalhes que Mauro não recorda. Desabou, roncando, depois e algumas horas de caricias. Despertou ainda um pouco bêbado, com a cabeça latejando e nada na memória da noite passada. Suou frio quando se viu nu e acompanhado através do espelho no teto.
A doce Gilda sorria, observando o despertar do assustado acompanhante da esbórnia.
O impiedoso espelho denunciava mais de cem quilos mal distribuídos em um corpo feminino.
-Acordou meu bem? Saudou Gilda, ao provável futuro marido.
-Vou tomar um banho! Comunicou dirigindo-se ao banheiro.
Mauro respondeu com um aceno sem graça. Sua cabeça, atordoada, raciocinava apenas no jeito que daria para livrar-se da situação. A mente sequelada escolheu a forma menos delicada de resolver o problema. Enfiou-se no uniforme de frentista e como um ninja desapareceu. Na verdade, o ninja frentista pulou o muro de trás do motel.
Sóbrio, percebeu o quanto à razão do bêbado pode ser cruel. Abandonou a bebida e festas que solicitavam fantasias.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Conquistador praiano


João era um cinquentão pegador, ostentava um físico inteiro e um topete loiro que fazia lembrar o John bravo dos desenhos. Assim como o personagem tinha excesso de confiança, ousava bastante no campo da sedução. Egocêntrico chegou na praia junto com Suzana, namorada tímida que via no despojado companheiro o par perfeito. Era Incapaz de perceber que o obsceno João paquerava tudo que se movia.
Não conseguiram barraca, aceitaram se apertar na barraca da gentil Tânia, mulher atraente e desquitada, prima irmã de Suzana que estava na companhia dos filhos que brincavam na água. . Virou a vítima perfeita na opinião de João, que rindo por dentro constatou que à própria Suzana o colocou de cara para o gol.
Bate papo e caipirinhas, Suzana não notava o charme que João atirava para cima da constrangida Tânia. Essa por sua vez procurava apenas ser simpática sem parecer insinuante.
Ricardo filho mais velho de Tânia saiu da água e pediu um milho verde, João cheio de segundas intenções fez questão de puxar uma cédula e pagar o milho do (sobrinho) que agradecido ofereceu mordida para todos na barraca. Suzana recusou, Tânia experimentou, sendo seguida pelo galante João. Quando João devolveu o milho para Tânia entregar ao garoto houve um fato curioso, o milho sorria. Discretamente Tânia retornou o alimento para João que nesse instante percebeu que à parte de cima da sua dentadura ficara fincada no milho da criança. Roxo de vergonha retirou seus dentes em segundos, e com uma desculpa esfarrapada abandonou a praia, sem pose, sem graça e sem Suzana que perplexa não entendeu o companheiro. Tânia entendeu muito bem, rindo sozinha viu desmoronar o conquistador praiano. Depois disso João nunca mais foi visto jogando charme pela praia, muito menos comendo milho.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pouco pano


A fama se esconde em infinitas formas. Talentos que desconhecemos. A Celebridade instantânea do momento é uma universitária desinibida. Foi assistir aula com um micro vestido. Ridicularizada pela massa universitária ensandecida, foi escorraçada tal como um cão leproso. Expulsa direto para o estrelato, capa de revista, jornal e programa de televisão. Invadiu a mídia formando opinião. Nossa estrela da vez é uma gordinha em um vestido justo, que quase sem querer deu um soco na cara dos padrões de beleza. Ofendeu porque ousou, mostrou exuberância sem ser sarada, pois se fosse escultural intimidava. Foi então que surpreendeu, foi genial e acabou pseudo celebridade. Fotos em shopping, autógrafos graças à hipocrisia dos colegas caretas. Universidade hoje em dia tem consumo de drogas, homossexualismo, tendências e atitudes. E é assim mesmo que deve ser, pois é o primeiro contato do jovem com a liberdade, quem discrimina hoje vai ser de alguma forma discriminado amanha. Todo mundo tem o seu esqueleto dentro do armário, nesse caso era um vestidinho curto que mostrou mais do que deveria. E isso causou ódio, inveja e até fúria, a grande massa que ocasionou o incidente representa a sociedade que se borra de medo de atitudes inesperadas. O que será do mundo senão os escândalos deliciosos do dia a dia. Parabéns a fofinha sensual, vida longa ao seu talento em fugir da mediocridade.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O ídolo


Pobreza não é desculpa para sucumbir ao crime. Mas demagogia de lado, o tráfico e o latrocínio atrai o jovem sem perspectiva. Fui garoto de bairro pobre, molecada sem dinheiro, com fome e sede, apenas a liberdade da rua para aprender coisa errada. Tinha família abastada, isso me tornava diferenciado, playboy, mas não impediu as aventuras da infância. Mudei no começo da adolescência, mas ainda hoje passo lá e bebo uma cerveja com amigos de infância. Tem a rapaziada da marmita, salário mínimo, família e responsabilidades, vida longa com suas pequenas emoções. Tem a rapaziada do dedo, vendendo pó, roubando e matando, cheio de mulheres, dinheiro, vida curta de grandes emoções. Sou tratado com conceito, por ambos os lados. Pois não esqueço que saí de lá, lamento apenas quando sei de alguém que foi comer capim pela raiz. Coisas da vida. Mas quem disse que o sucesso também não pode bater a porta. Tem exemplo no futebol, favelado que vira imperador.
Meu velho bairro não mandou nenhum fenômeno para Europa, sim para o mundo da música. Denis era um mulato diferente, negro de olho puxado, virou rapper e ganhou o Brasil cantando pobreza em forma de poesia. Um orgulho para o seu povo que enfeitava jornal como cadáver. Mudou do bairro, foi para sampa cantar rap e virar mc deninho. Às vezes aparecia, o Denis de sempre, marrudo e bem vestido. No meio da miséria tudo bem se um terminar bem. Então mc deninho sumiu. Nem a mãe sabia dele, o povo reclamou a falta do ídolo, comentavam que Denis tinha abandonado os pobres. Um dia um triste boato sobre o sumiço se confirmou. Mc deninho tinha dado um tempo do mundo da música guardado por um bom tempo em um presídio de São Paulo novamente como Denis. Formou um bonde para assaltar banco e manter sua fama de artista que economicamente não tava com essa bola toda. A alegria de um ídolo na comunidade durou pouco, a vida de marmita debaixo do braço não era tão glamourosa, mas quase sempre era a que durava e fazia os verdadeiros vencedores do lugar, onde a maior onda era sobreviver.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Pequeno detalhe


Beth, assim que começou a usar internet foi seduzida pelas salas de bate papo. Morava sozinha e sentia uma leve sensação de companhia quando teclava.
Como uma coisa puxa outra, foi atraída pelo lado afetivo.A oportunidade de conhecer alguém sem sair de casa, suas preferências, sonhos, tudo sem o estresse das baladas que já não mais a empolgava. Assim surgiu Mário, homem engraçado, carinhoso, agradável. Era o ideal que sonhava para dividir sua vida. Depois de alguns dias de papo virtual, trocaram telefone e a voz grave do outro lado deixou Beth arrepiada.
A prova final veio com a troca de foto por e-mail, quando surgiu a certeza: era o cara. Além de encantador, tinha um lindo rosto de modelo italiano.
A coisa ficou séria e precisavam do encontro ao vivo para sacramentar.
Beth temia por aquele mundo novo de net, além da timidez que causava frio na barriga. Tinha ouvido muitas coisas. Mário, que sempre surpreendia, trouxe a solução: como Beth sempre falava de Célia, parceira de solidão, incluiu o primo Félix nos planos. Aprovadas as fotos por e-mail, o encontro tornou-se duplo. Beth marcou em um restaurante estratégico- da varanda podia ver quem chegava.
Meia hora antes do horário marcado as duas já se encontravam à mesa, nervosas e atentas a qualquer aproximação.
No gol preto descrito por telefone puderam ver Félix, ao volante, procurando vaga. Parecia estar sozinho. Estranho... Onde estava Mário, o protagonista aos olhos de Beth? O Carro estacionou a quinze metros de onde estava, e as duas portas abriram. Mario também esta lá. Um metro e vinte cinco de homem. O mesmo rosto de modelo italiano em um corpo pequenino. Nada contra uma pessoa pequena, mas sim contra o encantador Mario que omitiu esse detalhe. Surpresa, também, para o pequenino homem que achou Beth cheinha para os seus padrões. Célia, sem culpa de nada, sorriu contente para o primo Félix, que mesclava beleza com um porte atlético, trocaram um bom papo que terminou em beijos. Mas o caso foi outro: o descarado Félix era noivo, prestes a casar, sem pretensão de mudar esse título.
Depois do susto e fatos escondidos Beth e Mário iniciaram uma amizade ao vivo, ficando de lado o clima de expectativa e romance. No fim das contas, aparência não deixa de ser importante, mas diversão vale mais.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Passarinho



Na década de oitenta, Niterói e São Gonçalo conviviam com o medo de um grande justiceiro. Um cara cheio de “parada” errada e cuja principal característica era matar. Fazia isso rindo, por qualquer motivo, qualquer dinheiro. O terror da policia, ladrão e maconheiro atendia pelo cândido apelido Passarinho.
Numa época de bandidos românticos, era possível andar pelas ruas de madrugada, beber cerveja quente em festa americana, sem estrelar a primeira página dos jornais, de cinqüenta centavos, como cadáver.
O jovem era dono da madrugada com suas brincadeiras bobas, normalmente causadas pelo teor alcoólico exagerado. Cláudio, acima da média, no quesito loucura, curtia o sábado com o seu fiel escudeiro, Carlinho.
A festa era em São Gonçalo. No trajeto, cerveja, velocidade e um carro ao lado “abarrotado” de mulheres, ótimo motivo para iniciar uma perseguição implacável. Só que as mocinhas desinibidas não estavam sozinhas no veículo: havia um tiozinho na direção.
-Aí coroa, tá cheio de mulher! Passa umas pra cá! - brincou Cláudio, enquanto Carlinho puxava na memória de onde conhecia aquele senhor tão familiar.
-Gostou garotão? Quer vir buscar? - deu corda o “cinqüentão” com um sorriso cínico, que Cláudio não foi capaz de perceber, mas estremeceu toda a estrutura de Carlinho.
-Cláudio, é Passarinhoooooo! - gritou Carlinho pálido. Lembrou do baile no qual os amigos apontaram aquela figura, como o famoso matador.
Cláudio não teve tempo de mudar de cor, cantou pneu e só desacelerou quando viu que não foi seguido.
Ficou no susto. Os dois ficaram bom tempo com medo de reencontrar Passarinho pela noite.
O matador, provavelmente, levou na esportiva. Afinal de contas, era muito alpiste para apenas um passarinho.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Lei seca, eu reprovo



Marcos era a favor da lei seca. Acreditava que, inibindo o consumo do álcool, reduziriam acidentes. Sentia uma satisfação particular em imaginar os “bebuns” desmoralizados no bafômetro, perdendo carteira, sendo multados. Não entendia o prazer de uma cerveja gelada, nem em usar o álcool como forma de descontração. Nunca precisou disso e batia palmas para Lei Seca implacável. Gostava mesmo era de bater um tambor. Batia ponto, de quinze em quinze dias, em uma “curimba” animada no seu bairro.
O candomblé varou o começo da madrugada. Falou com a entidade que usou um senhorzinho grisalho, com cara de sacana, como “cavalo”. Depois do papo, o Tranca Rua ofereceu a cachaça que bebia. Deu um gole, não era doido em recusar.
Pegou a alameda de volta para casa e se deparou com uma blitz enorme dos seus amigos da Lei Seca. Mandaram seu carro parar. Depois de mostrar os documentos foi solícito ao fazer o teste do bafômetro. Álcool detectado, susto para o sóbrio Marcos. Quando levantou a voz, para duvidar da seriedade do bafômetro, lembrou da cachaça do santo. Carro apreendido, pontos na carteira e multa. Tudo devidamente computado pelos amigos da Lei Seca.
Ia ser patético explicar a artimanha causada pelo Exu.
Ficou com seu prejuízo como qualquer outro bebum.
Lei seca, não aprovo!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Aventura radical



Nunca fui apreciador de esporte radical. Até acho legal, asa delta, bungee jump. Mas tenho medo, pela adrenalina, pela reação.
Tenho tendência a reações esquisitas em momentos de tensão.
Certa tarde de domingo, vi um grupo de amigos reunidos em volta de uma kombi, dentro um novíssimo jet ski. O jet e a kombi eram bens do patrão de Marcelinho que, contagiado pela empolgação, tomou a ousadia de convidar a galera para ensaiar umas voltas. Entrei de gaiato. Descemos a kombi na areia da Prainha do Naval, maré calma onde se podia colocar o carro bem na beira da água. Por esse fato, reunia grande concentração de gente dentro dos carros namorando.
Descemos (nosso jet) e começaram as primeiras voltas. Vento no rosto, velocidade, liberdade no mar calmo num fim de tarde. Fácil pilotar o treco: bastava acelerar para andar e largar para perder força e parar. Quando retornei da minha volta, veloz e emocionado, desacelerei distante uns cem metros da margem, logo voltei a acelerar o objeto boiando, e levei um susto, o bicho disparou e a areia foi crescendo, crescendo... Desesperado, fiz o imprevisível: acelerei ainda mais.

Plaft! Forte estrondo. Invadi a areia e estraçalhei a frente do jet na lateral da kombi. Acidente tão surpreendente quanto fantástico. E eu intacto da colisão. Infelizmente Marcelinho não pode dizer o mesmo: gemia no chão com as duas pernas quebradas.
No desespero de zelar pelo brinquedo do patrão, o rapaz entrou na frente, achando que eu ia diminuir a velocidade e vir apenas no embalo. Calculou mal. Eu mais ainda.
Socorremos nosso amigo perplexo com o ocorrido. Depois disso, fui à delegacia explicar o absurdo que foi parar no jornal.
Resumindo a opera Marcelinho ficou um tempo com as pernas engessadas. Para meu alivio, voltou a andar sem nenhuma sequela. O patrão, riquíssimo, foi caridoso abonando a tragédia, mas o funcionário rodou no emprego, que não era grande coisa.
Quando se tem vinte anos é muito difícil prever uma encrenca, e tudo parece fácil. Depois que tudo voltou ao normal, perdi contato com Marcelo, mas encontro seu pai em um boteco perto de casa.
-Aquela merda foi a melhor coisa que aconteceu com meu filho! -toca no assunto, sorridente e ébrio.
-Saiu daquela droga de emprego, montou uma lojinha, e hoje esta de carro, filho, casa própria e por aí vai!

Final de uma história estapafúrdia, sem deixar de ser um pouco cômica, mas que um dia já foi trágica.

O novo solteiro



Nada mais bombom fora da caixa que um novo solteiro.
Dia desses recebi a ligação de um amigo que não via há dez anos. Uma década morando no mesmo bairro, e mesmo assim, nem sabia mais que a figura existia.
A ligação poderia ter vários motivos: falecimento de parentes, dinheiro emprestado, transplante... Que nada! O cara, que em dez anos, não deu um “oi”, estava solteiro. Um novo solteiro na praça, com toda liberdade do mundo e nenhum amigo (porra louca) para sair.
Eu sempre vivi de relacionamentos curtos, viro referência para solteiros desesperados. Tudo que um novo solteiro precisa é de um veterano por dentro das noitadas; que conhece as avulsas (mulheres disponíveis), que está por dentro do que beber e por onde andar.
Sem jeito, aceitei a missão para um bordejo pela “night”. Pior noite da minha vida! Um cara que não tinha mais nada a ver comigo! Um conhecido que, em dado momento da vida, achei que era amigo. Quando, por motivo óbvio de solidão, adentrou em minha vida novamente, foi porque, de tão chato, não conseguiu coisa mais próxima.
O “mala” tomou um porre do meu lado, pegou à força a mulher mais feia do lugar. Terminou a noite chorando no meu ombro, o fim da relação.
Existe castigo pior que um novo solteiro?
Estragou meu sábado e ainda disse que ia sair comigo direto. Meu velho, provável novo melhor amigo.
Casei. Casei pra ele no sábado seguinte.
Quem sabe a ex (provavelmente tão chata quanto) aceite o mala de volta, deixando em paz o solteiro que voz fala.

Talento pra merda


Existe talento para tudo. Lamento que desde que me conheço por gente, o meu seja para encrenca.
Não é com orgulho que constato que merda sei fazer direitinho.
Todo ser humano dá a sua escorregada, mas eu abuso um pouco. Então, resolvi explanar essas atitudes infelizes; tanto as minhas como as que ouvi e presenciei de amigos e conhecidos. Burradas incomuns, que não deixam de ser trágicas, cômicas e verídicas, floreadas por nomes fictícios, revelando o louco que todo mundo tem um pouco.