quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sonho de consumo.


Frigideira odiava o emprego na loja de sapatos, diariamente subindo e descendo do estoque, aguentando mau humor. O sacrifício trouxe o orgulho de ser o primeiro motorizado da rapaziada. Apresentar o carango para rapaziada ia lhe transformar em um rei, já que em tempos de vacas magras, neguinho não tinha o dinheiro nem da bicicleta.
O dito era um Fiat 147, amarelo caganeira. Nos planos da praia de domingo esnobaria Samuca, rival que lhe batizou com o apelido exótico que causava risos no público feminino.
Célere estacionou o frigideira móvel na praça lotada. A galera bateu palma eufórica. Seu ponto alto.
-que isso! Despeitado em achar um defeito, Samuca cutucou uma falha na pintura e surgiu a primeira manchete.
Para constrangimento geral, o antigo dono omitiu um fato importante. O veículo tinha sido protagonista de uma capotagem cinematográfica, o lanterneiro metido a artista utilizou muita massa e jornal para substituir grande parte da lataria. Frigideira dirigia sob palavras.
A diversão ficou por conta de descascar a pintura em busca de informação. Desesperado, restou a Frigideira tentar evitar que desmanchassem seu sonho de consumo.

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