segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Promessa de mão de vaca.




Ano novo, vida nova. Zilda decidiu, deixaria de ser sovina colocaria o melhor vestido e ofertaria rosas vermelhas para iemanjá pedindo marido.


O fim de ano no manicômio trazia esperança nos enfeites de natal e pacotes de cigarro de presente. Fartura, não faltava cigarro na boca de maluco. Só que Clóvis queria mais que ficar encolhido pelos cantos tomando remédio e soltando fumaça, queria a liberdade.


Na floricultura Zilda teve uma recaída, se revoltou com o preço do buque e improvisou furtando as flores amarelas de um arranjo na portaria do seu prédio.


A noite da virada foi a data escolhida por Clóvis para fuga. Meia dúzia de funcionários lamentando plantão no feriado, sossega leão na idéia dos doidos. Nove da noite, pacientes recolhidos no pavilhão, ninguém deu falta de Clóvis na contagem. Pulou o muro e deu seu grito de independência.


Em uma praia lotada por multidão alcoolizada, o fugitivo ria nervoso para todos os lados quando percebeu o olhar receptivo da solitária Zilda de volta do mar onde depositara sua medíocre oferenda. Sem se fazer de rogado o Don Juan do hospício iniciou um xaveco que começou numa conversa sem nexo e culminou num longo beijo quando deu meia-noite. Bela entrada de ano, show pirotécnico no ar, bandinha animando o começo da madrugada.
Ao clarear o dia, o casal namorava deitados na areia. Zilda agradecia o milagre naquele cenário romântico depois de décadas encalhada. Clóvis vibrava com o mundo de prazeres proibidos quando estragando a atmosfera do grande encontro o enfermeiro Genival surgiu na frente dos pombinhos. O paciente tentou escapar e foi travado pelo enfermeiro Abílio na retaguarda. Zilda perplexa assistiu os brutamontes colocar a camisa de força no amado. No triste caminho de volta ao apartamento, lamentou amargamente a economia nas rosas vermelhas de iemanjá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário