quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma choldra ignóbil.





É época de sorriso roto em adesivo de carro. Não é necessário ser bonito, apenas a arte de rir sem vontade, a técnica de vender bondade com prazo de validade. Dias fatídicos que o horário nobre da televisão é gratuito, mas custa caro pra gente que troca à novela pela divina comédia humana. No picadeiro o mágico apresenta no presente a carta que vai tirar da manga no futuro. Política se alimenta do amanhã, principalmente por saber que memória é luxo de enciclopédia.
O monstro jurássico que promete acabar com a miséria é o alimento de campanha. Um jingle insuportável fica na cabeça depois de seguidas voltas do carro de som. O pedágio do traficante vale um tour pelo morro, conceito com a rapaziada, a ratazana foge assustada pelo esgoto a céu aberto que promete fechar, solta os fogos que se confundem com balas e banca o churrasco de gato. Depois contrata meia dúzia para balançar bandeira na rua, vestindo as cores da sua prepotência na camiseta apertada. Só alegria, beijo seco na criança remelenta, dentadura pro idoso e cachaça para o bebum. Na noite em casa pensa em números, toma sal de frutas pra curar a feijoada indigesta que foi obrigado a provar. No fim das contas vitória do ego, os espólios da batalha sobram para poucos, para muitos, chá de sumiço, esbarrão de segurança. A bondade vira arrogância, uma casa de praia no condomínio fechado. E um mais novo estranho familiar estréia trajando Armani e vomitando demagogia para platéia sonolenta em algum canal a cabo. Saboreando a herança dos devassos na capital que inventaram no coração do cerrado, longe da ralé, das enchentes esperando quatro aninhos pra sorrir de novo

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