quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Enfim carnaval


Nos anos sessenta, o carnaval no rio vivia uma época romântica, blocos animados atraiam uma multidão alegre, os bailes varavam noites de paquera num clima de harmonia. Por vezes surgia pancadaria, mas sem tanta violência logo terminava em abraço e cerveja. Vicente era apaixonado por carnaval, com seu jeito irreverente formulava adoráveis fantasias, gaiato por natureza não perdia a oportunidade de aprontar no feriado. Comprou uma fazenda preta e convenceu seu amigo alfaiate a transformar em duas batas mórbidas, uma pra ele e outra para o próprio timidamente cúmplice das suas peripécias. Até então fantasia de morte não era algo incomum, já dividia um grande espaço com os pierrôs e colombinas, o diferencial era Vicente que sempre arrumava uma maneira de aprontar. Para não desapontar seu povo, comprou um pinico novinho, como aqueles que viviam debaixo da cama de nove entre dez pessoas da época, encheu o recipiente com guaraná e para finalizar colocou um imenso pedaço de paio cozido horas antes no feijão da sua casa,ficou idêntico a necessidades fisiológicas. Saíram pela noite de folia causando repugnância por onde passavam, Vicente oferecia seu pinico para cada transeunte enojado pelo caminho. Pararam no bar da moda para curar na cerveja o calor da fantasia, quando um negro alto com cara de poucos amigos reparou na sacanagem.
-que nojooooooo!!!!!
Escarrou dentro do pinico demonstrando pouca tolerância com a brincadeira. Diante da real possibilidade de briga anunciada Vicente célere retirou o cuspe o quanto pode para logo dar um gole no guaraná e uma dentada no paio. Nesse exato momento o negão foi tomado por um súbito enjoo que o fez colocar para fora todo o campari que tinha bebido, dando assim um fim a porradaria que estava se formando. O pinico ficou celebre, seu Manuel do bar vizinho, trocou o utensílio por uma caixa de cerveja depois de constatar o aumento do movimento por causa do incidente no rival, o engradado terminou na mesma noite consumido por Vicente, alfaiate e o negão que a essa altura queria mais era colocar pra dentro o álcool que tinha perdido, afinal era carnaval.

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