terça-feira, 9 de março de 2010

Um gole antes de partir


Na década de noventa, qualquer fim de semana era motivo de viajem para o interior do estado. Forma deliciosa de reunir mulheres, amigos e historias impagáveis. Mão de faca, figura querida pelo seu jeito aloprado de protagonizar com naturalidade coisas inusitadas, se orgulhava em ser um ás do volante quando alcoolizado, tinha dado batidinha quando sóbrio, uma morsa simples, por motivo de afobação, de pileque exibia sua destreza sem nunca ter sofrido avaria. Devido a isso não deu ouvidos para o conselho dos amigos de irem de táxi para festa agropecuária na outra cidade.

Chegando intacto na festa, creditou a segurança do trajeto aos goles de vodka que tomou pelo caminho, radiante foi a caça da mulherada. Lá pela madrugada Mão de faca ainda não tinha sido feliz na sua busca, até então só tinha beijado latinha de cerveja e um pouco alterado se divertia atirando palitos de fósforo acesos nas escovas progressivas das mocinhas que o rejeitavam. Rafael veio em nome do grupo comunicar que estavam planejando terminar a noite na boate que ficava no mesmo quarteirão, apesar do povo decidir ir a pé, a excêntrica figura resolveu ir motorizado. Quando retirava o possante do estacionamento percebeu os músicos da festa precisando de carona, por uma dessas ideias estapafúrdias que só surgem na cabeça de biriteiro Mão de faca ofereceu seus serviços de motorista e apesar de receosos a banda aceitou o convite. Mudando seu caminho, partiu com seu palio lotado em uma trip de sessenta quilômetros. Na metade do trajeto o povo desesperado com a velocidade fez nosso amigo parar o carro no posto de gasolina de beira de estrada, assim o solitário aventureiro resolveu voltar para casa na ideia de ocupar uma das poucas camas do recinto antes da galera. Ébrio, vagando por uma estrada rural deu uma leve piscada de olho e encontrou pela frente a cerca de arame farpado, grande estrondo, mas se recompôs e continuou seu caminho. Desabou no sofá da sala mesmo, sono pesado, nem viu o resto do povo retornar da gandaia.
Cabeça zunindo no dia seguinte foi acordado por Rafael onze da manhã.
-o que é aquilo no seu carro?
Todos ao redor, examinavam sua carcaça de biriteiro para ver se estava inteiro.
-esbarrei em um cerca e dei um arranhão!
Já pensava em continuar seu sono quando sentiu que o buraco era mais embaixo. Levantou e foi conferir sua obra, a lateral do veículo estava acabada assim como sua habilidade de motorista bêbado.
Mão de faca curtiu tímido o restinho de exposição, doeu no bolso constatar que o cachaceiro no volante só ganha mesmo é sono e coragem, mas consequentemente perde todo seu reflexo.




Um comentário:

  1. Triste isso..."não" conheço ninguém que faça isso por aqui!!rsrsrs!! Mas foi só uma batidinha!! kkkk

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