quarta-feira, 24 de março de 2010

Um lero com Deus


Era uma tarde de sábado como outra qualquer, Barrigudinho tinha como rotina curtir o silêncio do quarto queimando um depois do almoço. Parecia um daqueles cafés de Amsterdã que via na televisão. No décimo segundo andar, o vento encanado dissipava o cheiro sem despertar a atenção de curiosos, uma liberdade gozada na selva de pedra, dentro do seu templo com o seu cigarrinho de artista. O efeito, unido ao relaxamento do ambiente trazia para o doido as maiores viagens, magia capaz de transporta-lo para o coração da natureza, se via entre montanhas, submerso na água gelada de uma cachoeira de Sana, um momento só dele. Amava sexo, dinheiro, mas aquele estado de êxtase vinha em primeiro lugar, essa preferência inclusive podia ser até o motivo de estar sempre em falta dessas outras coisas, pois a aparência não ajudava, seus dreads nunca viam água, clássico desempregado sem pretensão de integrar o mercado de trabalho, um sonhador de havaianas nos pés e poucas ideias devido a tanta cremação diária de neurônios. Mas tudo bem, a onda substituía prazeres menores. De repente uma voz grave invadiu sua harmonia.
-barrigudinhoooooo!
Um eco assustador pronunciava seu apelido. Acreditando ser apenas paranoia, virou de costas para janela e deu uma leve puxada no bagulho para espantar os fantasmas.
-barrigudinhooooo!
Persistiu o grito, o suficiente para despertar o maltrapilho da sua preguiça.
-Deus?
Alucinado Barrigudinho olhou para o pedaço de céu nos fundos do prédio na esperança de encontrar o divino. Na cobertura vizinha três conhecidos rolavam no chão rindo do diálogo do lesado com o espírito santo que eles que nada tinham de santo começaram.

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