terça-feira, 6 de abril de 2010

Um minuto molhado de silêncio.


Alguém me empresta um submarino, uma arca de Noé moderna, para salvar vida de carioca, mas também de gaúcho, nordestino e paulistano. O rio é um pouco de tudo, a chuva é caprichosa desce estrondosa, derrubando barraco, derrubando sonhos, desaparecendo com pessoas. Escrevo isso ouvindo desesperado do quarto o massacre da água, com a certeza a manhã seguinte será molhada de tristeza. Gente inocente engolida pela fúria da natureza. Todo mundo cansa de ouvir dizer que o ser humano não é tão inocente porque desafia o meio ambiente, constroem casa na encosta. Se existe inconsequência, o capitalismo tenta comprar segurança, algumas vezes gasta reservas com ignorância porque de repente chega o mar de lama, engole rico, engole pobre, fecha caminho, modifica a geografia que pode ser bela e pode ser fera. O Haiti é quase aqui, a gente descobre besta que ninguém é hercúleo com a natureza, nenhum lugar no mundo esta preparado para dias debaixo d’água, de terra vibrando, placas tectônicas, é tanta coisa que o bicho homem às vezes nem têm chance de saber do que esta morrendo. O fim do mundo é todo dia, os chefes de segurança pedem calma, massacrados, quem pediria desespero? O desespero já é efeito do momento, o silêncio é o que sobra para o óbito, a dor resta para quem fica. Uma melancolia retida no peito por se descobrir tão pequeno, volúvel brinquedo da tempestade.

3 comentários:

  1. acho que todo mundo do Rio e Niterói se sentiu assim, revendo a vida, pensando na impotência sobre tudo e nas fatalidades da vida. o que eu achei mais incrível é como as pessoas reclamavam, no FAcebook, por nao poderem sair de casa. Gente, mas foi só por menos de dois dias... E as pessoas assim, histéricas pq nao podiam ir pro samba... socorro!

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  2. que issooooo....texto lindo!!!!!!!!!!
    de arrepiar!
    vc q fez?

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