quarta-feira, 5 de maio de 2010

O bagulho é doido.


Valdo andava conversando com espírito, cabeça em pandarecos. Não tinha grana, nem era capaz de lembrar ultima vez de carteira cheia. Nem sempre foi assim, tinha estagio, faculdade completa, família bonita colorida em porta retrato da sala.
A vida estava ingrata por esses dias, de quem seria a culpa?
Não via televisão, não ouvia música, moedas de troca. Seu ritmo agora era o barulho frenético dos carros no asfalto, buzinas nervosas, gritaria e sirene de patrulha. Às vezes pintava em casa, a mãe esgotada de delegacia e IML. Viver não era isso, às vezes a cura é o atalho para o inferno.
Valdo já foi gente, fez catecismo, canudo de formatura, nem tinha tanto tempo, não lembrava quando. Neurônio queimava todo dia, demente rindo do nada na calçada, chorando choro sem lagrimas, seco, secura, o tempo de uma puxada. Maltrapilho assustando transeunte no ponto do ônibus pedindo dois reais. Na fissura roubaria um banco, mas patético só roubava mãe, si próprio, vendendo por nada a roupa do corpo sebosa de alguns dias.
Nunca teve briga ferindo o histórico escolar, agora saia no braço por um cigarro, coragem ilusória, apanhando sem sentir, desacordava estirado na calçada.
A vida era o hoje, o ontem já tinha passado um tempão, sem memória e sem futuro. A onda era o que importava, minutos de êxtase, um universo mágico, longe dessa porra toda, que valia qualquer preço, deixando a realidade como detalhe no trajeto.
O pai desesperado internou, foram madrugadas infindáveis suando frio, maldizendo os parentes. Melhorou com o tratamento, dias ensolarados novamente, possibilidade de alta a vista. Quase gente de novo aproveita o descuido da segurança e pulou o muro da clinica na intenção de surpreender seu povo no domingo das mães, depois do susto veio à aposta de melhora, palavra de um novo homem. As semanas mostravam proximidade de verdade, só que um momento de frustração trouxe a recaída, aí foi cachimbo no bolso, frases a esmo. Voltou pra rua, mentira mal contada, tapa na cara de polícia, mendigo de barba feita. Longe de casa, perto do fim, engrossando estatística, ilusão perdida mesclada na cabeça fraca, pois o momento de ser forte pode ser aquele que está mais frágil.

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