quarta-feira, 7 de julho de 2010

Contra ao vento


Nas manhas úmidas de sereno, surge o dono da alameda. Cúmplice calado da fumaça negra dos ônibus. Faça chuva ou faça sol o senhor supremo da sarjeta cambaleia pelo trânsito. Abstrato, fantasiado de sujeira, carrega no corpo quinquilharias que compõem um figurino confuso, cheio de cores e odores. Ninguém sabe o seu nome, sua história, no semblante fechado esconde uma melancolia nos olhos úmidos, tapado de barba, repleto de caracas. Seu banheiro é um pneu que usa para deixar no canal os seus dejetos, um espantalho urbano, causando repulsa, deixando no rastro pessoas tapando as narinas, tomando distancia. Abandonado da sanidade deixou o CPF no passado virou uma ratazana gigante. Vagando bobo, calado, dizem a boca pequena que é mudo, certo é que foge a regra dos lunáticos com algazarra peculiar. Sem paradeiro certo, dorme uma hora em viaduto, outra em marquise, imprevisível, camuflado da prefeitura que recolhe o povo da rua.
Não bebe álcool, não usa droga, perambula a esmo sem pedir comida, dinheiro, gosta de ser independente, dono daquilo que as pessoas perdem, deixam pelo caminho, o resto compõe uma fantasia trágica, ofendendo os caretas que não sabem que a arte é um moleque temperamental, pode estar no luxuoso museu da Europa, pode estar no miserável que trajando entulho, livre e intrépido é conhecido como homem lixo.

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