quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cúmplice de liberdade



Liana iniciou uma viajem pela lua. Cansou-se de manter o juízo, elefante branco sem utilidade. Sabe que sua sorte não estaria nas estrelas, mas na terra anda tudo chatinho mesmo, pequenos suspiros condicionais, sem gosto como comida de hospital. Agonia das mesmas caras, mesmas contas difíceis de pagar, não lembra em qual gaveta esqueceu o sorriso.
Seu cotidiano é arrumar a casa, varrer o caos pra debaixo do tapete. Chora as mágoas da incerteza escrevendo poesia com seu cúmplice de banho de mar, de liberdade. Um anti-herói familiar que matava um leão por dia para deixar aberta a porta da gaiola e fazer Liana voar. Encolhida do frio no edredom da segurança, esqueceu como se voa, lamenta como é perecível uma tentativa frustrada de felicidade. Na lua observa que o circo contínua armado, peça vazia de atriz cansada, sem condição de esconder na fantasia o desespero transbordante. Resolve perder mais um tempinho na lua, quem sabe não tropeça nas asas perdidas e voa de novo, voa sem volta, louca, lúcida, viva de novo.

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