terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ermitão do trezentos e dois


Wilsinho era o famoso arame liso. Dez minutos perto da rapaziada era a conta para começar a ser sacaneado. A galera gastava na sua fama de virgem aos trinta anos.
Bira era o que mais zoava, tão pilantra se fingia amigo. Em memorável tentativa de abalar a monotonia do pobre, o convidou para uma noitada no novo bar do bairro. O lugar tava bombando, tinha possibilidade do casto rapaz perder seu cabresto. Apesar de satisfeito com suas atividades auto sexuais nas duas horas que levava para tomar banho, Wilsinho foi obrigado pela mãe a aceitar o convite do gaiato.
Tirou camisa nova do armário, colocou perfume de cheiro duvidoso. Chegaram cedo ao recinto, em grande número de pessoas. Juntaram mesa, pediram balde de cerveja. A casa lotou, um público feminino animado, duas moças em especial sorriam animadas para o assédio de Bira. Wilsinho não se fez de rogado e apesar do nervosismo aceitou o desafio de atacar. No seu íntimo sentia a oportunidade de mostrar para aquele bando de inúteis do prédio que não era o bobo da corte que parecia. Ajudado pelo drible que o álcool deu na sua timidez chegou desinibido na loira grande. Suas investidas foram sendo bem recebidas pela encorpada senhorita. A essa altura Bira já roubava o primeiro beijo na moreninha com cara de boneca e foi à deixa para Wilsinho mergulhar nos lábios grossos do loirão. A mesa dos amigos se dividia entre gargalhadas e espanto, não esperava parecer engraçado, afinal estava se dando bem, mostrando para os idiotas o que era ser um homem de verdade. Mas para sua infelicidade o motivo de tanta graça era que sua miopia não lhe deixou perceber que sua amada também era um homem de verdade. Um traveco famoso da região que sua reclusão no condomínio não lhe permitia conhecer. Tarde demais, a casa de show inteira assistia ao espetáculo O misericordioso Bira lhe impediu a tempo de descobrir a tromba escondida na saia. O escândalo com o tempo ganhou mais trechos chegando ao ponto de algum sacana incluir a perda da virgindade do infeliz. O que se sabe é que os sacanas nunca mais contestaram o poder de conquista do ermitão do trezentos e dois.

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