quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Eu podia tá roubando!


O coletivo não estava lotado, mas ainda sim restavam poucos lugares para viajar sentado. Em uma tarde abafada de janeiro, apesar do ar condicionado o calor que entrava toda vez que a porta abria, deixava o clima quente e naturalmente o mau humor de quem paga passagem mais cara também aumenta. Andar de ônibus, parando de ponto em ponto, gente estranha do lado, em um Rio de janeiro que a segurança é bastante precária é uma aventura no mínimo antropológica. Muitos rostos, diversas raças, misturas improváveis por motivos inimagináveis.
Apesar de carona ser proibida pelas empresas, os motoristas abrem exceções para o comércio alternativo da grande massa desempregada brasileira, os ambulantes. Tem vendedor que já ficou famoso por décadas abusando do discurso repetitivo, vendem bala, chocolate, cocadas confeccionadas em fundo de quintal, tem aqueles que apelam para distribuir de mão em mão um bilhetinho sujo contando sua deficiência. Nessa segunda monótona o motorista respeitou o cotidiano e aceitou mais um desses testadores de paciência alheia.
-boa tarde senhores passageiros, desculpe atrapalhar o sossego da viajem! Lamentou o homem alto de cinquenta anos, curiosamente de terno e gravata, sem alguma mercadoria aparente. A senhora no banco da frente bufou mostrando descontentamento, o rapaz dos bancos atrás se virou para paisagem na janela simbolizando seu desinteresse, a grande maioria dos passageiros arrumou alguma maneira de ignorar o pedinte visivelmente fora dos padrões de pobreza aceitável para esse tipo de função.
-eu poderia estar em algum paraíso pelo mundo, mas estou aqui pedindo! Continuou sem se importar com a pouca atenção.
-pedindo que por piedade que aceitem esses cheques de meio milhão retirados do premio da mega sena de final de ano que ganhei sozinho! Atenção imediata de todo o busão, freada brusca do motorista, o homem célere distribuiu sua fortuna para os perplexos novos amigos. Ta certo que se fosse por atenção ninguém ganhava um centavo, mas Oswaldo fez a promessa de distribuir parte do premio no primeiro transporte publico que entrasse antes de apostar e se descobrir milionário. No fim das contas sobrou grana para distribuir para uns cem veículos iguais se quisesse e ainda deu a oportunidade de trinta e dois novos-ricos nunca mais precisaram andar de ônibus e felizes perceber o preço que vale uma atenção.

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