domingo, 27 de junho de 2010

Pela Janela


Da janela Lourdes via o mundo passando. Todo tipo de mundo passava pela sua janela. Paquerando todos, dispensando sorriso torto para os transeuntes. O ponto forte não era beleza, seu charme medíocre era invisível aos exigentes. Lourdes era assim, igual a todo mundo, cara de gente que enfeita com o vulto a multidão. Por isso se pintava, coloria sua insignificância com maquiagem barata, palhaça atraente para os fracos de idéia. Namorando de profissão ganhou um bofetão do pai quando pegou barriga, o rebento natimorto ficou pelo caminho, Lourdes foi pra vida de vez, deixando sua cidadezinha (pequena no tamanho, grande na intolerância). O caminhoneiro trocou a carona por carinho. Foi dando o que tinha pelo caminho. De janela em janela, espartilho, cinta liga, escondendo a melancolia na bebida. Convidando os solitários a invadir sua rotina, matando a fome de uns, fazendo a fantasia de outros, deixou o sonho do noivo ensebado pra traz, ia sobrevivendo enquanto tivesse uma janela para enfeitar.

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