quinta-feira, 3 de junho de 2010

Trago pessoa amada


Era só esquecer, mas às vezes a gente luta pra continuar sofrendo, porque tem momentos que isso é o mais interessante que temos. Laurinho andava bolado, fulo da vida pelo fim de um falso amor que sua ingenuidade não tinha lhe deixado perceber. Amaldiçoava a cretina que jogara pelo ralo sua paixão, mas só queria a dita cuja de volta. No desespero do momento, sem dormir, sem comer, deixou a razão na gaveta e focou sua atenção em um panfleto colado no poste em que dizia (trago a pessoa amada em três dias ou seu dinheiro de volta). Vinha agonizando há semana se tivesse que matar uma galinha preta para abrandar o sofrimento não pensaria duas vezes.
Chegou ao endereço e teve a deprimente conclusão que para atingir o paraíso tem muito inferno pelo caminho, nesse caso uma vilazinha de quinta categoria. Depois de passar por lavadeiras curiosas, crianças remelentas e idosos descamisados chegou na casa do milagroso. O velhote trajava um branco encardido e guias rubro negras no pescoço, o seu quartinho ainda era mais fedido que a vila toda por conta de uma mistureba de gato, cachorro e passarinho. Com um charuto barato dançando na boca banguela rezou Laurinho que deixou cem reais para o serviço. Foi pra casa aguardar o retorno da danada em setenta e duas horas. No primeiro dia nada, no segundo nem sinal, o terceiro prevaleceu o silêncio inquietante da falta de contato. Desgostoso e sem juízo, voltou ao pardieiro em busca do seu cenzinho de volta. Nem sinal do macumbeiro, uma mulata encorpada falou que a polícia deu uma batida e levou o sete um. Puto da vida Laurinho teve a certeza que não teria sua mulher amada em três dias, o vigarista não sairia da cana por alguns meses e seu suado dinheirinho não veria nunca mais.




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