quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Culto na roça


Betinho foi passar férias escolares na fazendo da avó, sem televisão, luz elétrica... O silêncio da noite era interrompido apenas pelos cantos dos grilos e pios de coruja. Sua avó era evangélica e tinha como maior prazer, o culto noturno que era realizado em uma igrejinha a dois quilômetros da casa.
Para espantar o tédio, resolveu encabeçar o grupo e se mandou para igreja com avó, tia e dois primos.
Escuridão no caminho, contos de assombração, tudo até então parecia prazeroso para o garoto urbano. No local da cerimônia, pouco mais que um casebre, encontraram grande parte da população agrícola do local. Rostos solenes, gemendo rezas desconhecidas. Betinho, nem um pouco santo, começou a achar cômico, graça de verdade, tinha o riso frouxo.
Apesar de crentes, seus primos alimentavam seu humor, dando risadinhas ocultas. Betinho em desvantagem, por sua dificuldade em conter o riso, gargalhava percebido pela avó que bufava, incomodada com a falta de respeito do menino. Percebendo que passara dos limites, Betinho resolveu se conter. Foi pior! O que era para vir por cima veio por baixo. Prendeu o riso, mas não conseguiu conter a explosão. Uma seqüência de gazes estremeceu toda a igrejinha. O culto parou. Um barulho, odor horrível, os peidos estavam realmente envenenados pelo forte tempero do interior.
Os primos explodiram na gargalhada e até a tia não resistiu; a avó permaneceu sisuda. Foi expulso da igreja, abandonou antecipadamente suas férias na roça.
Até hoje continua com seu riso frouxo, mas não prende, pois a natureza sempre arruma um meio de liberar seus fluídos.


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