segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Aventura radical



Nunca fui apreciador de esporte radical. Até acho legal, asa delta, bungee jump. Mas tenho medo, pela adrenalina, pela reação.
Tenho tendência a reações esquisitas em momentos de tensão.
Certa tarde de domingo, vi um grupo de amigos reunidos em volta de uma kombi, dentro um novíssimo jet ski. O jet e a kombi eram bens do patrão de Marcelinho que, contagiado pela empolgação, tomou a ousadia de convidar a galera para ensaiar umas voltas. Entrei de gaiato. Descemos a kombi na areia da Prainha do Naval, maré calma onde se podia colocar o carro bem na beira da água. Por esse fato, reunia grande concentração de gente dentro dos carros namorando.
Descemos (nosso jet) e começaram as primeiras voltas. Vento no rosto, velocidade, liberdade no mar calmo num fim de tarde. Fácil pilotar o treco: bastava acelerar para andar e largar para perder força e parar. Quando retornei da minha volta, veloz e emocionado, desacelerei distante uns cem metros da margem, logo voltei a acelerar o objeto boiando, e levei um susto, o bicho disparou e a areia foi crescendo, crescendo... Desesperado, fiz o imprevisível: acelerei ainda mais.

Plaft! Forte estrondo. Invadi a areia e estraçalhei a frente do jet na lateral da kombi. Acidente tão surpreendente quanto fantástico. E eu intacto da colisão. Infelizmente Marcelinho não pode dizer o mesmo: gemia no chão com as duas pernas quebradas.
No desespero de zelar pelo brinquedo do patrão, o rapaz entrou na frente, achando que eu ia diminuir a velocidade e vir apenas no embalo. Calculou mal. Eu mais ainda.
Socorremos nosso amigo perplexo com o ocorrido. Depois disso, fui à delegacia explicar o absurdo que foi parar no jornal.
Resumindo a opera Marcelinho ficou um tempo com as pernas engessadas. Para meu alivio, voltou a andar sem nenhuma sequela. O patrão, riquíssimo, foi caridoso abonando a tragédia, mas o funcionário rodou no emprego, que não era grande coisa.
Quando se tem vinte anos é muito difícil prever uma encrenca, e tudo parece fácil. Depois que tudo voltou ao normal, perdi contato com Marcelo, mas encontro seu pai em um boteco perto de casa.
-Aquela merda foi a melhor coisa que aconteceu com meu filho! -toca no assunto, sorridente e ébrio.
-Saiu daquela droga de emprego, montou uma lojinha, e hoje esta de carro, filho, casa própria e por aí vai!

Final de uma história estapafúrdia, sem deixar de ser um pouco cômica, mas que um dia já foi trágica.

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