segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O ídolo


Pobreza não é desculpa para sucumbir ao crime. Mas demagogia de lado, o tráfico e o latrocínio atrai o jovem sem perspectiva. Fui garoto de bairro pobre, molecada sem dinheiro, com fome e sede, apenas a liberdade da rua para aprender coisa errada. Tinha família abastada, isso me tornava diferenciado, playboy, mas não impediu as aventuras da infância. Mudei no começo da adolescência, mas ainda hoje passo lá e bebo uma cerveja com amigos de infância. Tem a rapaziada da marmita, salário mínimo, família e responsabilidades, vida longa com suas pequenas emoções. Tem a rapaziada do dedo, vendendo pó, roubando e matando, cheio de mulheres, dinheiro, vida curta de grandes emoções. Sou tratado com conceito, por ambos os lados. Pois não esqueço que saí de lá, lamento apenas quando sei de alguém que foi comer capim pela raiz. Coisas da vida. Mas quem disse que o sucesso também não pode bater a porta. Tem exemplo no futebol, favelado que vira imperador.
Meu velho bairro não mandou nenhum fenômeno para Europa, sim para o mundo da música. Denis era um mulato diferente, negro de olho puxado, virou rapper e ganhou o Brasil cantando pobreza em forma de poesia. Um orgulho para o seu povo que enfeitava jornal como cadáver. Mudou do bairro, foi para sampa cantar rap e virar mc deninho. Às vezes aparecia, o Denis de sempre, marrudo e bem vestido. No meio da miséria tudo bem se um terminar bem. Então mc deninho sumiu. Nem a mãe sabia dele, o povo reclamou a falta do ídolo, comentavam que Denis tinha abandonado os pobres. Um dia um triste boato sobre o sumiço se confirmou. Mc deninho tinha dado um tempo do mundo da música guardado por um bom tempo em um presídio de São Paulo novamente como Denis. Formou um bonde para assaltar banco e manter sua fama de artista que economicamente não tava com essa bola toda. A alegria de um ídolo na comunidade durou pouco, a vida de marmita debaixo do braço não era tão glamourosa, mas quase sempre era a que durava e fazia os verdadeiros vencedores do lugar, onde a maior onda era sobreviver.

2 comentários:

  1. tem razão... a maior onda de todas, na favela, na pobreza ou na riqueza é a mesma: sobreviver. Qdo olho em volta e conto as baixas, percebo que estou no nirvana. Viva, saudável, escolhedora, fazendo o que amo, cheia de amores e amigos, de diversão e ainda por cima com planos para o futuro. Essa é a tal mega sena premiada, amigo, vamos usufruir! beijo

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  2. Isso mesmo Andréa, e triste daquele q não tem ideia disso! bjs

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